domingo, 25 de janeiro de 2009

Como lidar com a raiva

Há momentos na vida em que dá vontade de esquecer toda a educação dada pelos nossos pais e voar no pescoço “daquela” pessoa, ou ainda, quebrar tudo que se vê pela frente. Antes de “perder a cabeça”, pare e reflita se realmente vale a pena se estressar, ou se o melhor é aprender a agir.

De acordo com a psicóloga Oziléa Clen, a raiva é um sentimento que todo ser humano sente e a forma de lidar depende de cada um, mas claro que é preciso tomar cuidado para não virar uma ameaça. “A raiva é um dos principais pilares da violência, pois, a partir dela, a pessoa pode, de forma imediata, passar a um ato violento”, afirma.

Saber lidar com a raiva nem sempre é fácil. O que é melhor? Controlar a raiva ou extravasar? Nem sempre a resposta é clara. Para a especialista, depende da estrutura emocional de cada um. “Existem pessoas que conseguem controlar de forma a não potencializar o sentimento, falando dele sem se alterar. Isso atenua não só a sua raiva como também a do outro, evitando embates. Por este aspecto, tal controle é saudável. São pessoas mais calmas e que não conseguem perder a razão, sendo esta a mediadora em casos dessa ordem”, explica.

Porém, a maioria das pessoas não tem esse autocontrole e não sabem lidar bem com a raiva, transformando o sentimento quase que em ódio. “Quando se tratam de pessoas descontroladas emocionalmente, mesmo que momentaneamente controlem, o sentimento vai ser demonstrado já numa dose muito maior e nociva. Saber se o melhor é controlar ou extravasar tal sentimento depende mesmo de cada pessoa. Ela deve ser a mediadora de todos os seus sentimentos”, ressalta.

Para lidar bem com a raiva, o primeiro e principal ponto é a pessoa tentar manter a calma para ter condições de identificar o motivo que a levou a senti-la; em seguida, precisa reconhecer suas condições emocionais para não ser levada pela impulsividade, que é uma grande vilã.

“A fala branda e firme acalma os ânimos e é uma outra maneira de lidar com esse sentimento. O que acontece na cultura da violência é a ausência da fala controlada. O resultado disso são as passagens ao ato. As pessoas se esqueceram da importância da fala e da escuta e, na falta desses dois agentes próprios do ser humano, temos como conseqüência a desumanidade que faz triunfar a violência”, frisa.

É importante que, no calor do sentimento, a razão predomine sobre a atitude, pois do contrário os danos e as conseqüências podem ser fatais e/ou irreparáveis.

Males da raiva

De uma forma geral, a raiva é negativa quando passa a ser um sentimento constante na vida do indivíduo ou, ainda, quando se faz o uso indevido do sentimento. “Essa constância não só faz mal à própria pessoa como aos que a cercam, podendo chegar até mesmo a provocar uma tragédia. Isso tem sido muito comum em nossos dias, devido aos estímulos exacerbados do mal”, lamenta.

“É bom lembrar que a raiva é tão perniciosa que pode desencadear doenças como hipertensão, infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) levando até à morte”, completa.
Como superar

Reconhecer o problema e identificar o fator que leva a pessoa a agir dessa maneira é um passo grande para conseguir mudar. Entretanto, se os acessos de raiva são constantes, o melhor é procurar ajuda de um profissional na área psíquica.

O profissional, uma vez diante da sua avaliação, tomará as devidas providências e, inclusive, indicar o uso de medicamentos. “É sempre bom que a pessoa, mesmo medicada, possa ser acompanhada por um psicólogo para falar das suas angústias e do seu sofrimento”, aconselha.

Um dos argumentos muito usado pelas pessoas nervosas para justificar suas atitudes é que faz parte de sua personalidade. Entretanto, Oziléa nega essa hipótese. “Não podemos dizer que o nervosismo faça parte da personalidade, pois ninguém nasce assim. Na medida em que a estrutura psíquica da criança vai se construindo no campo da linguagem, as dificuldades de se comunicar vão se avolumando e dando lugar aos sentimentos. É por isso que quanto mais a pessoa tem problemas na área da comunicação, mais exacerbados e descontrolados ficam os seus sentimentos e a sua inviabilidade de manter laços sociais”, acredita.

“Podemos perceber que as pessoas que conseguem se expressar de forma mais clara e com mais tranqüilidade, de modo geral, mantêm um maior controle sobre as suas emoções e conseguem viver bem em sociedade”, completa.

A psicóloga também aconselha a prática de esportes e artes. “Se não for considerada uma patologia grave, a prática de esportes não só é favorável como recomendada para que esse sentimento tenha uma via de escoamento. Através da arte temos obtido ótimos exemplos de como disciplinar os impulsos, fazendo com que a pessoa transforme o que para ela era mau, ajudando a adquirir uma boa qualidade de vida e um bom convívio com as pessoas”, revela.

Do outro lado

Agora, se você convive com uma pessoa assim e deseja que ela mude, primeiramente tente manter a calma e lembre-se de que ela precisa de ajuda. “Normalmente, são pessoas que negam a sua patologia, daí se tornam mais difíceis de lidar. Com calma e apontando-lhe os fatos é possível que a mesma perceba que o problema está com ela, sendo esta uma das melhores condutas para convencê-la a se tratar”, analisa.

“A doença nervosa vem se acentuando na contemporaneidade devido ao excesso de estímulos para o mal, evidenciando as depressões e as compulsões.

Se realmente se trata de uma pessoa nervosa, a indicação é um tratamento. Ela precisa de ajuda.”